Da matéria-prima ao tecido: inovações na tecnologia têxtil para colocar no radar
Tecidos tecnológicos são aposta do setor têxtil em tempos de crise sanitária
Em voga desde a explosão da pandemia, tecidos com propriedades antivirais capazes de inativar o novo coronavírus com um simples toque de superfície levaram a tecnologia têxtil de volta aos noticiários, com iniciativas de grandes players da indústria e também de start-ups.
Um exemplo é a Rhodia, que patenteou um novo fio de poliamida desenvolvido no Brasil, cuja incorporação de íons de prata na fibra promete neutralizar diversas bactérias e vírus, como os da Covid-19, Sars, Mers, influenza e herpes. De acordo com o fabricante, esses íons causam uma afinidade eletrônica que, em contato com o vírus, rompe sua capa de gordura e inativa as regiões externas de proteína, as tais coroas, neutralizando a covid-19. A start-up Becauz foi uma das primeiras a incorporar o tecido nos looks:
Iniciativa semelhante aconteceu nos laboratórios da UFSCAR (Universidade Federal de São Carlos), que desenvolveu um tecido formado por nanopartículas de prata e sílica capaz de inativar fungos e bactérias. O produto teve eficiência comprovada contra o coronavírus nos testes realizados pela instituição.
Outra opção tem sido a impregnação de propriedades antivirais posterior à fabricação dos fios, como no caso da resina utilizada pela Vicunha e pela Malwee que combina sais de prata e vesículas lipossomais com ação semelhante no rompimento da cápsula de gordura do vírus.
Nesse sentido, a catarinense TNS Tecnologia, voltada à confecção de EPI’s para a área da saúde, investiu em nanotecnologia para desenvolver um composto que une prata, cobre, zinco e complexo hidrogenado e outro que usa folhas de uva e de amendoeira. Esse aditivo pode ser usado na fabricação de fios ou quando a peça é finalizada, seguindo um processo semelhante ao tingimento, de acordo com a marca.
Apesar dessa nova aplicação, a verdade é que iniciativas análogas de inovação tecnológica nos tecidos estão em alta há várias temporadas, com destaque para os segmentos esportivo e underwear, que investem em produtos com necessidades especiais para treinos e contato intenso com a área íntima, como propriedades antibactericidas, hidratantes, de proteção solar e estimulação anti-celulite, para citar as mais comuns no mercado.
Contudo, uma vez que a principal matriz utilizada em tecidos tecnológicos são as fibras derivadas do petróleo, recurso finito e vilão da sustentabilidade, há um gargalo na incorporação dessas propriedades aos biotecidos, derivados de diferentes compostos orgânicos encontrados na natureza, aos quais a indústria terá de recorrer quando precisar de matérias-primas alternativas.
Assim, listamos abaixo 5 inovações em matéria-prima têxtil para você colocar no radar:
BeLeaf: alternativa ao couro animal feito a partir de folha de orelha de elefante, uma planta facilmente encontrada na flora brasileira. Essa tecnologia é criação da empresa carioca Nova Kaeru.
Ecocircle: criado pela empresa japonesa Teijin, esse tecido é feito de PET e à base de plantas. A fibra contém 30% da cana, que substitui 30% do óleo necessário para o poliéster tradicional. Além de tudo, o tecido tem um sistema de reciclagem, em circuito fechado, ao final da sua vida útil. Sua primeira aplicação foi em estofamentos automobilísticos da Nissan e, hoje, também é utilizada pela marca Patagônia, reconhecida pelo print de sustentabilidade:
Piñatex: tecido não tecido que utiliza as folhas de ananás, parte da fruta que seria jogada no lixo, para a sua elaboração. Todo o processo é feito em comunidades das Filipinas e sua textura semelhante ao couro animal o torna uma alternativa para a indústria de calçados, como no caso da marca vegana Insecta Shoes
Orange fiber: idealização italiana para o setor têxtil, esse material surgiu como um possível substituto para a seda. A confecção é iniciada pela extração da celulose encontrada na casa da laranja. Marcas como a Ferragamo e a H&M já incluíram o tecido em suas coleções:
Qmilk: A estilista e microbiologista alemã Anke Domaskeis desenvolveu um processo para transformar a sobra do leite que seria descartada pela indústria alimentícia em um tecido sedoso chamado de QMilch’. Trata-se de uma fibra natural e renovável derivada da caseína, proteína extraída do leite azedo, que é misturada a ingredientes naturais e orgânicos como a água e cera de abelha. O tecido ainda promete características antibacterianas e pode regular a temperatura.
Café: Lançado em 2009, pela empresa têxtil Singtex, de Taiwan, o S.Café, tecido feito da borra do grão, seca rápido, protege dos raios ultravioleta e bloqueia o mau cheiro do corpo:
Texticel: elaborado a partir de uma cultura de bactérias do Kombucha alimentada por açúcar, o tecido ainda está em fase de experimentação no laboratório Biotecam, no Rio de Janeiro, mas já deu pinta em feiras de inovação de artigos têxteis, como o Inspira Mais, voltado ao setor calçadista.
Curtiu essa seleção? Aproveite para conhecer o programa FASHION. CULTURE. NEW STREAMS. NEM AESTHETICS, que acontece nas cidades de Berlim e Amsterdam, pólos de inovação têxtil e de moda, em julho de 2021 com a Galeria do Conhecimento e já conta com inscrições para registro de interesse abertas.
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