Furando a bolha: cinco stylists com print decolonial para ampliar suas referências de moda

Quando se fala sobre descolonizar o padrão sobre a imagem de moda, a primeira caixa a se quebrar é a da própria cabeça

Da crítica simplista aos looks com brilhos e animal print vestidos pela Beyoncé em Black Is King à priorização de influenciadoras brancas para divulgar a chegada da Fenty, linha de make-up da Rihanna, ao Brasil, persevera no mainstream cultural o pensamento colonizado que elege tanto na produção de conhecimento, quanto de imagens o padrão eurocentrado como hegemônico como ponto de partida para a crítica do outro.

Isso justifica o porquê do olhar pasteurizado sobre os looks escolhidos pela cantora na reinterpretação da narrativa do filme Rei Leão como ponto de partida para discussão da diáspora africana. No percurso de apropriação da “estampa de oncinha” em looks sexy ou de inspiração “étnica”, pela moda ocidental, a simbologia original de nobreza que o padrão possuía foi diluído e esvaziado como ostentação, inflamando as discussões, necessárias, diga-se de passagem, sobre a ampliação de repertório urgente da branquitude, embalsamada em sua visão datada de mundo.  

Isso porque, ainda nos dias de hoje, nossa orientação sobre o clássico e o disruptivo parte dos códigos apreendidos pelas convenções europeias que definiram como moda o sistema de distinção de castas ditado pela nobreza no período colonial para se diferenciar da plebe, uma relação paradoxal com as demandas atuais de diversidade e representatividade em alta há várias temporadas, para as quais a leitura das entrelinhas ainda é míope e a compreensão, repleta de gafes como essas que citamos. 

É claro que é muito importante conhecer a história e a evolução das marcas de moda consagradas do velho mundo, dada a sua influência absoluta no mercado, porém é preciso ter em mente que seguir replicando os parâmetros europeus sobre o nosso potencial criativo apenas perpetua nossa condição tímida e carente de tradição, sem o potencial de grupos bilionários que investem na moda como cartão-postal da própria cultura. 

Sabemos que a decolonialidade é uma macrotendência que cresce a cada nova temporada e compreendê-la sem ficar refém da armadilha fácil da transgressão requer de nós a ressignificação da nossa própria narrativa mestiça, sem lastro e, portanto, livre para projetar o futuro. Mas, primeiro, é preciso furar a bolha.

Sob essa perspectiva antropofágica, trabalhamos com a proposta da intelectual Heloísa Santos sobre decolonialidade que extingue a distinção entre moda e costume por entender a relação de cada cultura com o vestir como fruto da própria noção sobre o espírito do seu tempo, não havendo, portanto, a necessidade de adequação a um norte em comum, mas a oportunidade de entrelaçar as conexões estabelecidas entre as diversas formas de lidar com o vestuário em diversos cantos do globo como uma rede de referências para além da Europa.

“Traduzindo para o nosso cotidiano, essa subversão das hierarquias do conhecimento, previstas antes ainda no pensamento rizomático de Deleuze, propõe as nossas referências como marco zero da própria criação, tensionada a cada novo atravessamento agenciado pelo mundo em constante transformação. Dessa forma, conseguimos nos apropriar da moda como dispositivo do autoconhecimento, determinando novas escolhas e afetos que empoderem nossa matriz diversa, naturalmente avessa a padrões”, avalia Jô Souza, curadora visual e idealizadora da Galeria do Conhecimento, sobre a (des)construção do olhar colonial, viés explorado no nosso curso de Antropologia da Moda.

Assim, elencamos cinco stylists que subvertem os códigos da moda na criação decolonial de imagens: 

 

Day Molina: Descendente de uma família indígena do nordeste, a stylist, estilista e empreendedora Day Molima, 32 anos, tem sido uma voz importante, especialmente no mundo da moda, no combate ao racismo e na conquista de espaço para que mais profissionais indígenas possam surgir e prosperar. Ela se divide entre sua atuação como stylist e como estilista de sua própria marca, a Nalimo, que lançou há quatro anos e é representante do Fashion Revolution em Niterói.

Ibrahim kamara: Ibrahim Kamara é editor at large da i-D, entrou para a lista das pessoas mais influentes da moda do Business of Fashion. Nascido em Serra Leoa, ele tem repensado a representatividade e a masculinidade negra com foco na África, criando imagens que representam uma nova África. Seu trabalho é carregado politicamente e aborda questões de gênero, diversidade e liberdade de expressão sob o ponto de vista de quem vive de fato todas essas questões.

Igi Ayedun: Apontada pela V Magazine (Visionaire Group) como um dos talentos da moda mais notáveis de sua geração, a paulistana Igi Ayedun é uma image + content + creative designer y artista multimídia com mais de 15 anos de experiência em criação de conteúdo de moda. Idealizadora do M Journal e da galeria HOA, em exposição na SP Arte 2020.

Suyane Inayá: Criadora do termo “Sevirologia”, que representa as pessoas que se viram com os acessos que têm, Suyane Ynaya é editora de moda da revista Elle e stylist por trás de campanhas incensadas de marcas como Nike e havaianas, com trabalhos publicados em portais como Afropunk e Highsnobiety.

Zerina Akers: A estilista criada em Maryland, EUA, é colaborada de longa data de Beyoncé e assinou a direção criativa do styling de Black Is King, que reúne referências ancestrais e nomes contemporâneos da moda afrodiaspórica nos mais de cem looks selecionados para o filme.  

Para ler: 

A Galeria do Conhecimento sempre vai te recomendar livros para complementar seu repertório profissional, pois para nós, moda é texto da cultura:

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