Moda e games:
saiba como as grifes têm marcado presença nesse novo território
Principal fonte de entretenimento jovem abre espaço para novas narrativas e experiências com as marcas no mundo trans-covid19.
Desde que o isolamento social se impôs para a sociedade por causa do novo coronavírus, a comunicação digital se tornou praticamente a nossa única possibilidade de interação e de escapismo, condicionando ainda mais nossa forma de lidar com a realidade.
Se, como previu McLuhan, o meio é a mensagem, em tempos de pandemia, a limitação física que estamos vivendo dá o tom da dimensão virtual a explorar, trazendo na moda, reflexo do seu tempo, elementos novos sobre metalinguagem e experiências.
Além das parcerias com artistas em lives, festas via Zoom, desafios no Tiktok e playlists no Spotify, um exemplo digno de nota é a aproximação das grifes internacionais da linguagem dos games, segmento tradicionalmente líder em inovação no meio virtual, em colaborações que reforçam tanto o seu branding, quanto a monetização em licenciamento.
As colabes da moda com o meio virtual já vinham sendo experimentadas há algumas
temporadas, como em 2016, quando Ricardo Tisci vestiu a superstar Hatsune Miku,
holograma japonesa responsável por diversos hits na terra do sol nascente, ou quando
modelos virtuais como a Shudu Gram, que estrelou campanhas da Fenty Beauty e da
Balmain começaram a ser agenciadas pela Digitals, em 2018, criando um novo nicho de
atuação no mercado.
Porém, a notícia da vez ficou a cargo do anúncio da parceria firmada entre a Gucci, incensada grife que recentemente declarou rompimento com o calendário tradicional de desfiles, e o jogo Tennis Clash, desenvolvido pelo unicórnio (start-up que valem mais de US$1bi) brasileiro WildLife, na criação de skins (vestíveis, na linguagem gamer) exclusivas para o game.
Desde o ano passado, a iniciativa de criar guarda-roupas cápsulas de skins para jogos virtuais têm ganhado espaço no meio fashion, vide o colabe da Moschino para o jogo
online The Sims 4, em 2019, que contava com roupas de luxo que foram vendidas tanto para os avatares do game quanto para os clientes da marca. A parceria inspirou a inserção da carreira de fotógrafo de moda autônomo no jogo, que permitia que o personagem tirasse fotos de modelos para grandes campanhas publicitárias e também capas de revista.
Da mesma forma, a Louis Vuitton desenvolveu skins para o quinteto de hip-hop do jogo True Damage, spin-off do League of Legends, abrindo alas para os signos do streetwear e do meio virtual para a criação de Nicolas Ghesquière, diretor da grife, cuja aquisição pelos fãs da colabe também se concretizou no mundo real.
O Fortnite, que recentemente tombou a internet com a turnê digital do rapper norte-
americano Travis Scott em seu metauniverso, a qual contabilizou 30 milhões de
espectadores em abril desse ano, aproveitou a oportunidade para impulsionar os tênis
cocriados pelo astro do basquete Michael Jordan e a Nike, também disponíveis para compra como skins para os avatares do jogo desde o ano passado, um senhor case de
cobranding.
Contudo, o queridinho das marcas atualmente é o Animal Crossing: New Horizons, da
Nintendo. Seus avatares podem não ser realísticos como os dos outros jogos, porém, sua
audiência tem atraído designers como Marc Jacobs, que desenhou seis skins para eles
esse mês, a 100Thieves, focada em streetwear e e-sports, que disponibilizou todos os
looks criados por ela nos últimos três anos para os gamers baixarem, e a Valentino, que
lançou vinte peças de suas coleções primavera/verão pré-outono de 2020 para o jogo, priorizando skins com a marca em destaque.
A possibilidade de caracterizar a interface do jogo possibilita que os fãs da plataforma programem livremente a própria mobília, looks e utensílios se apropriando dos signos das grifes, um novo viés também para cópia de itens fashionistas, fenômeno indissociável da criação de moda, só que no âmbito virtual, sobre desejo, pertencimento e legitimidade.
Há inclusive um perfil no instagram dedicado a catalogar as criações dos jogadores de
Animal Crossing, chamado "arquivo de moda de Animal Crossing ", com mais de 46 mil seguidores e registro das cenas emulando a linguagem das revistas do segmento.
“Os videogames apresentam a oportunidade de explorar realidades desassociadas às
nossas pessoas públicas, um espaço sagrado onde podemos crescer dentro e fora das identidades tão rapidamente quanto podemos trocar de roupa – onde o visível pode
corresponder à natureza do invisível que muda rapidamente.” disse ela à Vogue Hong Kong quando perguntada sobre a confluência de moda e games.
Essas inserções, tão importantes para as marcas seguirem relevantes no imaginário do
consumidor que, hoje, quase não compra moda para usar na vida real, são fundamentais para renovação das labels que desejam se conectar com a general Z (ou mesmo a alfa), que não se pauta tanto pelos códigos de consumo tradicionais e responderá, nos próximos anos, pela maior fatia de mercado. Um approach mais do que necessário para o zeitgeist insurgente do mundo pós-pandemia.
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