Moda e Literatura: 10 livros para você maratonar na quarentena

Na vida real, as roupas que nos vestem desnudam nossa personalidade para o mundo. Na literatura, não é diferente.

Presente em praticamente todas as culturas, o ato de vestir atravessa a escrita desde a antiguidade, tendo na figura de Penélope da Odisseia, que ganhava tempo para governar seu país sozinha ao atrasar continuamente a confecção do manto que determinaria seu novo casamento, a emblemática associação entre criadora da trama e senhora do destino. 

No enredo, o entrecruzamento literal e metafórico do tear subversivo de Penélope se fia na herança divina do ofício de tecer, comum a diversas deusas, como as Moiras, por exemplo, enquanto alegoria sobre a escrita engenhosa da própria sorte, uma perspectiva que, hoje, encontra eco no imaginário coletivo sobre lugar de fala e representatividade nas criações de moda e imagem contemporâneas.

Tal relação entre a literatura e a indumentária se faz presente em nosso vocabulário até os dias de hoje. As palavras texto e tecido se irmanam na mesma raiz latina textere, que em princípio indicava maneira de tecer, coisa tecida ou estrutura, passando a significar também, por volta do século 14, tecelagem ou composição literária.

Outra relação curiosa entre a linguagem escrita e a vestimentar na significação da transcendência encontra-se na origem da palavra glamour, derivada de grammar (gramática, em inglês), que na Idade Média designava estudos sobre os saberes ocultos, assim como a capacidade de encantar e revelar objetos e vidas totalmente diferentes da realidade externa, uma metáfora sobre o fascínio que reveste o termo até os dias atuais. 

Isso porque a roupa, nossa segunda pele, é recurso fundamental de autoexpressão e comunidade tanto no mundo real, quanto na ficção, a qual utiliza seus códigos para a criação das narrativas literárias, a construção dos personagens, agenciamento dos costumes e consequente condução da trama.


                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                    “O uso do vestuário é fundamentalmente um ato de significação, além dos motivos do pudor, adorno e proteção. É um ato de significação, logo um ato profundamente social, alojado no próprio cerne da dialética das sociedades”. Roland Barthes, 1966

Tendo em vista a constante ressignificação dos códigos vestimentares, em eterno compasso com as mudanças do zeitgeist, Jô Souza, curadora visual e idealizadora da Galeria do Conhecimento, destaca a importância da literatura na pesquisa contínua sobre moda na formação dos profissionais da área, “a leitura correta das imagens exige tanta dedicação quanto a interpretação dos textos verbais, ambos são recursos vivos da comunicação humana. Por isso mesmo, faço da literatura minha janela para o mundo. Quanto mais eu compreendo o outro, melhor desenvolvo meu repertório criativo”

Mente por trás de diversos editoriais e fashion films no nosso mercado, Jô assinava o blog Moda Literatura de  2008 até 2012 , em que, entre outros assuntos, discorria sobre seu acervo particular de mais de 2,5 mil livros, principal fonte de pesquisa em sua jornada profissional na moda, que começou há 20 anos quando decidiu dedicar sua monografia à vida e obra do estilista Ney Galvão (1952-1991).  

“Eu acredito na moda como texto da cultura e tenho especial interesse pelo traço criador contemporâneo, que resgata e contesta as normas sociais para desnaturalizar o ato de vestir, abrindo espaço para a possibilidade de novas narrativas e, também, alteridades, algo que sempre falo às turmas de cultura de moda e consultoria de imagem”, afirma Jô, que continua, “o mais interessante sobre as imagens de moda atuais é justamente a afirmação da decolonialidade, eu vejo no protagonismo da diversidade um dos principais documentos sobre o nosso tempo”. 

Já que a literatura é uma janela para o mundo, nada melhor do que explodir a clausura da quarentena mergulhando nessa seleção dos livros abaixo para ampliar as perspectivas sobre composição e linguagem da moda:

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